quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Use as informações a seu favor

O pequeno e médio empreendedor que busca crédito bancário para operações diversas – como antecipação de recebíveis, capital de giro ou mesmo financiamento de bens – pode encontrar condições diferentes em termos de taxas de juros, prazos ou limites se estiver disposto a informar de forma transparente os dados de sua empresa para os bancos. Segundo o diretor de pessoa jurídica da Caixa, Roberto Derziê, quanto mais informações o cliente fornece, melhor é a avaliação do banco sobre a capacidade de pagamento dele, inclusive para a definição de limites de crédito.

Hoje, os clientes pessoa jurídica da Caixa, com faturamento de até R$ 50 milhões, podem fazer o download de um formulário no site do banco, preencher as informações e entregar o documento em uma agência. "Estamos em acordo com um birô de crédito para, a partir de janeiro, desburocratizar a vida do empresário. Bastará ele apresentar o Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ). A ideia é fazer a consulta e dar um retorno online, com avaliação prévia da empresa, para iniciar o relacionamento", afirma.

Segundo especialistas em finanças empresariais, é possível fazer uma boa negociação com o banco, mas isso dá trabalho. A redução do spread (diferença entre o valor que o banco paga para captar o dinheiro e o que cobra do cliente final) chegou de forma tímida ao cliente pessoa jurídica — a queda foi de apenas 3,6% nos últimos 12 meses encerrados em setembro. Para a pessoa física, a diminuição do juro na ponta foi maior, de 7,1% no mesmo intervalo.

O consultor do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de São Paulo (Sebrae-SP), Luiz Ricardo Grecco, diz que o empresário precisa aprender a usar as informações da empresa em benefício próprio.

Histórico – Antes de conceder o crédito, as instituições financeiras procuram saber qual o histórico financeiro do cliente, o desempenho de receitas e despesas e, se possível, ter acesso a um plano estruturado de negócios para o futuro. "Isso ajuda o banco a ter uma visão de como será o comportamento da empresa daqui para frente, em função do financiamento que ela busca para crescer. Quanto mais estruturadas estiverem essas informações, melhor será a análise de crédito pelo banco", diz o consultor da unidade de Acesso a Mercados e Serviços Financeiros Sebrae, Weniston Ricardo de Andrade Abreu. Para ele,  quem não organiza as informações para buscar linhas específicas de crédito, como o capital de giro, acaba optando pelo empréstimo com limite pré-aprovado (pela conta garantida, o cheque especial da pessoa jurídica). É uma linha sem burocracia, mas de custo alto.

"Para não cair nisso é preciso ser proativo e usar o poder de negociação. O banco não vai oferecer outra linha de crédito se o empresário já estiver pagando uma taxa maior em outra",  diz Abreu.

O consultor Grecco orienta o empresário a "não deixar a água bater no queixo" para buscar uma linha de crédito adequada ao seu objetivo. Trata-se de um processo de levar as informações ao banco, comparar condições e conseguir estabelecer um relacionamento. "Quanto menos urgente for a necessidade de crédito do empresário melhor a condição dele de se preparar e escolher o banco e a linha de crédito que atendam suas necessidades. Ele precisa ter tempo para comparar os produtos e suas condições", afirma.

Erros – Segundo Abreu, um erro comum do empresário é esconder informações de faturamento em sua própria contabilidade, com o objetivo de pagar menos impostos. "Já atendi uma empresa que tinha um registro contábil que não espelhava a realidade das receitas, ou seja, apresentava um faturamento menor. O empresário achava que estava ganhando, ao pagar menos impostos. Por outro lado, ele perdeu. Como a empresa cresceu muito rápido, ele teve a oportunidade de adquirir um terreno para a construção de de um depósito, mas como os registros oficiais da empresa não refletiam a realidade financeira, o banco não concedeu o financiamento para a compra do terreno. No final, ele teve de adiar os planos de expansão e regularizar a empresa do ponto de vista fiscal", afirma o consultor.

Positivo – Grecco avalia que os parâmetros de análise de crédito usados hoje pelos bancos tendem a mudar com a entrada em operação do cadastro positivo – um banco de dados com informações de pagamentos de contas de pessoas físicas que autorizarem a inclusão de seus dados. Para o diretor de produtos da Boa Vista Serviços (BVS), William Timoteo, o cadastro positivo – que entra em operação em janeiro – será útil aos empresários que não têm histórico de crédito. "O cadastro positivo mostra que a pessoa física (ou o dono da empresa) faz pagamentos em dia e isso influenciará na obtenção de crédito", afirma Timoteo. Ele diz que a BVS está preparada para operar o cadastro positivo e que também oferece produtos e serviços para pequenas e médias empresas utilizarem para saber o risco no momento em que forem receber cheques e negociar junto a fornecedores.

 

Dicas para a negociação com os bancos

 

- Antes de pedir financiamento, o empresário tem de ter clareza do projeto no qual o dinheiro será investido e passar essas informações de forma transparente ao banco.

 

- Essencialmente, o banco quer saber qual é o volume de recursos necessário para o projeto e qual será a taxa de retorno dele. É importante que o empresário informe os dados de faturamento, de fluxo de caixa, certidões negativas de débito, documentos que comprovem que a situação fiscal está regularizada e um plano de negócios para o futuro.

 

-  Dependendo do ramo de atividade, é preciso apresentar documentos que atestem que o estabelecimento está com a burocracia em ordem, como alvarás de funcionamento ou da Vigilância Sanitária.

 

-  Com essas informações, o banco vai definir o potencial de pagamento do cliente e qual será a linha de crédito específica para o projeto dele. Nesta etapa, pode definir prazo de pagamento, taxa de juros e limites.

 

-  Em todo o processo, o banco pensa no risco de inadimplência do cliente. Por isso, a transparência na hora de prestar informações ajuda a instituição financeira a ter uma melhor percepção do risco de inadimplência que a empresa tem.

 

-  O desencontro de informações sobre o faturamento da empresa pode dificultar a tomada de crédito. "Se o empresário mostra um faturamento contabilizado que não corresponde à realidade, vai declarar que tem um lucro menor do que tem e isso pode gerar um limite reduzido de crédito e, com isso, inviabilizar um projeto de expansão", diz o consultor do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de São Paulo (Sebrae-SP), Luiz Ricardo Grecco.

 

-  Se a empresa for pequena, é importante que os sócios ou o dono estejam com as obrigações fiscais e legais regularizadas. Quanto menor a empresa, mais importante é a avaliação da pessoa física que está à frente do negócio.

 

-  Empresas que não pagam em dia o INSS (Instituto Nacional de Seguridade Social) e o FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço) dos funcionários também podem ter o crédito restrito pelo banco.

 

-  Não economize informações para os bancos. Quanto menos a instituição financeira souber sobre a empresa, menos conseguirá perceber o risco real dela de inadimplência e, assim, mais garantias serão exigidas para conceder o crédito. "O cheque especial do empresário é um exemplo: a taxa de juro é alta porque o banco tem pouca informação do cliente e, assim, considera que o risco dele é maior na operação", diz Grecco.

 

Fonte: consultor do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de São Paulo (Sebrae-SP), Luiz Ricardo Grecco. e Diário do Comércio

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